Estudo comprova: Preconceito prejudica a adesão ao tratamento das pessoas que vivem com HIV

Em estudo inédito, 64% dos entrevsitados declararam ter sofrido discriminação em algum momento pós-diagnóstico do HIV, inclusive vindo de profissionais em estabelecimentos de saúde e locais de trabalho. É o que mostra o “Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV” no Brasil, lançado pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), no dia 10/12, na sede a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).

A pesquisa contou com 1784 pessoas entrevistadas em diferentes partes do Brasil e comprova cientificamente o impacto dos preconceitos que envolvem diferentes aspectos da vida de uma pessoas que vive com o vírus causador da aids.

O estudo aconteceu em Manaus (AM), Brasília (DF), Porto Alegre (RS), Salvador (BA), Recife (PE), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ) e usou uma técnica de amostragem não probabilística conhecida como “Bola de Neve”, onde os indivíduos selecionados para serem estudados convidam novos participantes da sua rede de familiares, amigos e conhecidos. O termo vem da ideia de que as amostras vão aumentando a cada nova entrevista.

Entre as pessoas que vivem com HIV entrevistadas, 63% eram homens cisgênero, 31% eram mulheres cisgênero e 6% eram travestis ou mulheres transexuais. A maioria, cerca de 58% se declaram pretos ou pardos e conheciam seu estado sorológico positivo para o HIV há uma média 10 anos e meio.

O estudo trouxe detalhes sobre a vida afetivo-sexual dos participantes, como a informação de que 50% dos voluntários estavam em um relacionamento e, metade desses, mantinham relacionamentos sorodiferentes (quando um vive com HIV e o outro, não). Destes, 80% tinham falado sobre seu estado sorológico para as parcerias sexuais. Ao mesmo tempo, quase 31% dos entrevistados relataram ter evitado sexo após o diagnóstico. 82% consideram muito difícil contar sobre sua sorologia para outras pessoas, mas quando contavam, 57% alegaram ter recebido acolhimento e suporte dos familiares e amigos.

Quase metade dos entrevistados ouviram piadas, comentários e fofocas sobre seu estado sorológico. Na relação com os serviços de saúde, o estudo aponta que 15,3% das pessoas entrevistadas afirmaram ter sofrido algum tipo de discriminação por parte de profissionais da saúde pelo fato de viverem com HIV ou com aids, incluindo atitudes como o esquivamento do contato físico (6,8%) e a quebra de sigilo sem consentimento (5,8%). Estes dados contrastam com qualquer diretiva de atendimento humanizado preconizada no Sistema Único de Saúde (SUS).

Sobre questões socioeconômicas, o estudo trouxe um dado preocupante de que 1 a cada 3 pessoas que vivem com HIV estavam desempregadas no momento da entrevista, sendo que muitos já tinham vivido situações onde não conseguiram manter o mínimo para seu sustento.

Durante a conclusão do evento, profissionais, gestores e ativistas falaram sobre a importância de um estudo como esse, com dados consolidados, para a construção de políticas públicas focadas no combate ao preconceito, uma vez que o estigma da infecção afasta pessoas da testagem, diagnóstico e tratamento contra a aids.

Também reforçaram a necessidade de maior empenho na orientação de profissionais de saúde contra a discriminação e garantia dos direitos conquistados pelas populações mais vulneráveis ao HIV. O relatório aponta que todas as populações sofrem com elevados níveis de discriminação, sendo a população de trans e travestis a que apresentou os maiores números – 90,3% das pessoas trans e travestis relataram já ter sofrido pelo menos uma das situações de discriminação avaliadas no estudo.

O estudo foi concebido pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a ONG “Gestos Soropositividade, Comunicação e Gênero”.

Acesse o relatório com os dados completos clicando aqui.

Fonte: Agência Aids

No Comments

Post A Comment

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.