População desconhece preservativos internos disponíveis no mercado

Novos modelos de preservativos internos foram desenvolvidos para reduzir custos e melhorar a aceitabilidade do insumo. No entanto, poucas mulheres, público alvo destes fabricantes, desconhecem a maioria das opções disponíveis. Para ativistas do movimento de HIV/aids, a falta de conhecimento sobre as diferentes possibilidades de prevenção disponíveis torna as mulheres ainda mais invisibilizadas, fazendo com que não possam escolher qual o melhor insumo para sua saúde sexual, nem mesmo reivindicar melhorias ou substituições desses preservativos na saúde pública.

“Não só as mulheres desconhecem o preservativo interno, mas também a população em geral, sejam adolescentes, jovens e idosos. Não vemos a divulgação desse insumo até mesmo em campanhas, banners e propagandas do Ministério da Saúde. Quando falamos de divulgação, sempre é mostrado o preservativo externo (comumente chamado de masculino ou peniano), essa invisibilidade que contribui para o desconhecimento dos preservativos internos e suas variações”, diz a ativista Rafaela Queiroz.

Segundo ela, essa é uma das razões pelas quais muitas mulheres se expõem ao risco de contrair uma Infecção Sexualmente Transmissível. “Em palestras e oficinas que atuo quando falo dos benefícios do preservativo interno como a diferença do material de borracha nitrílica, poliuretano e látex é uma surpresa, muitas pessoas já relataram alergia ao látex que é o material do externo e sem saber de outra opção muitas vezes se expõem a riscos de infecções.”

Para a ativista Vanessa Campos, da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+), essa invisibilidade está associada a padrões culturais. “Os preservativos são majoritariamente construídos para atender as necessidades do homem pelo fato da sociedade sempre ter reprimido o prazer sexual da mulher.”

Entendendo os preservativos internos

Para garantir aprovações regulatórias, são necessários estudos clínicos para verificar o desempenho de cada preservativo.

Antes do lançamento do produto no mercado mundial, havia uma atmosfera de curiosidade, mas aqueles responsáveis por sua divulgação subestimaram a reação dos consumidores americanos e europeus. O formato da primeira geração dos preservativos internos, o FC1,  não recebeu boa acolhida das mulheres.

Assim, a fabricante decidiu lançar uma campanha para educar consumidores sobre a camisinha feminina e lançou o FC2, produto que está disponível atualmente em 150 países. A vasta maioria das vendas se destina a quatro clientes a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid, na sigla em inglês), a ONU, o Brasil e a África do Sul. Tanto organizações humanitárias quanto autoridades de saúde pública sustentam que este preservativo dá maior autonomia à mulher durante a relação sexual.

Na África, a distribuição gratuita das camisinhas femininas em postos de saúde criou uma tendência de moda inesperada. Muitas mulheres removeram o anel flexível do preservativo e passaram a usá-lo como pulseira. “Se você está solteira, você usa a pulseira”, brinca Marion Stevens, da Wish Associates. “Se você estiver, por outro lado, num relacionamento sério, a sua pulseira terá uma aparência mais velha”, acrescenta ela.

Meyiwa Ede, da Sociedade da Saúde da Família na Nigéria, afirma que, enquanto os homens ficam mais empolgados com a possibilidade de fazer sexo sem usar “uma camisinha tradicional”, as mulheres ainda se mostram receosas de usar o produto. “Elas olham para a camisinha feminina e dizem: Tudo bem, mas eu realmente terei de colocar isso dentro de mim?”, diz ela.

 

Conheça os diferentes modelos

Camisinha da Segunda Geração (FC2)

Em 2009, o modelo conhecido como Caminha da Segunda Geração (FC2) substituiu o preservativo de primeira geração que era feito de poliuretano, o FC1,  disponível desde 1993. Assim, a FC2 tem especificação e aparência similares, mas tem um anel flexível para inserção do preservativo e para mantê-lo no lugar durante o uso. Além disso, é feito de borracha nitrílica.

 

Woman’s Condom 

Este é o nome oficial do modelo que foi desenhado pelo Program for Appropriate Technology in Health (PATH) e é feito de poliuretano. Esse preservativo contém um cilindro para inserção que se dissolve após entrar em contato com a mucosa vaginal. Essa camisinha não vem pré-lubrificada, mas é fornecida ao lado de um lubrificante feito à base de água. A Woman’s Condom já se encontra disponível na China e pretende chegar à África do Sul. Esse preservativo já foi testado em 50 diferentes versões.

Cupido

Fabricado na Índia este modelo agora é distribuído pelo Sistema Único de Saúde no Brasil, e também está disponível em alguns países da Europa e da África. Ele é feito de látex, tem uma borda octogonal e possui uma esponja que promete ajudar na sua inserção, além de manter o preservativo no lugar durante a relação sexual. está disponível na Índia, África do Sul e Brasil. Tem essência de baunilha e vem nas cores transparente e rosa. Trata-se de único modelo, fora a FC2, da Female Health Company, a ter ganhado o aval da Organização Mundial da Saúde (OMS) para ser vendido para o setor público. Uma versão menor voltada para o mercado asiático já está em fase de testes.

VA Wow

Este modelo é também fabricado na Índia e é feito de látex e, assim como o modelo conhecido como Cupido, este preservativo contém uma esponja que é feita para ajudar na sua colocação, no entanto, sua borda é triangular.

 

Panty Condom

A Panty Condom, feita pelo fabricante colombiano, a Innova Quality, vem embalada junto de uma calcinha que ajuda a manter a camisinha no lugar certo. O novo preservativo, foi o anunciado em 2015, e agora busca atingir o mercado na África, particularmente o mercado de Uganda. O produto combina contracepção e lingerie, incorporando um preservativo feminino reutilizável no design da peça. A calcinha é como uma fio dental com camisinha. É colocado na calcinha e tem uma entrada e saída.

Origami

Enquanto isso, a camisinha feminina conhecida como Origami promete lançamento desde 2015, no entanto ainda não entrou no mercado. Seu inventor, Danny Resnic, que começou a trabalhar no setor depois de contrair HIV  em 1993, levou em conta as inúmeras piadas feitas com a FC1 ao desenvolver seu produto. “Há uma razão para a qual a camisinha feminina parece uma bolsa de plástico – porque ela é, no fim das contas, uma bolsa de plástico”, diz ele.

O seu preservativo, por outro lado, é ovalado, o que, segundo ele, espelha a anatomia do aparelho genital feminino. O produto será vendido como uma cápsula e uma vez inserido no interior da vagina se expande como “o fole de uma sanfona”. O anel externo da camisinha é desenhado para se acomodar sobre os grandes lábios, em vez de permanecer solto como em modelos antigos. “É um produto íntimo e uma experiência compartilhada por duas pessoas”, diz ele.

 

O que mostram os estudos

Uma pesquisa recentemente publicada pela revista científica The Lancet analisou os três principais modelos de preservativos internos distribuídos no mundo.

Embora a distribuição de preservativos femininos continue aumentando em todo o mundo, dobrando de 25 milhões para 50 milhões de unidades entre 2007 e 2010, é substancialmente menor que a dos preservativos masculinos e representa apenas 0,19% da compra global de preservativos por governos.

Pesquisadores pediram que 170 mulheres sul-africanas testassem três diferentes tipos de camisinhas femininas cinco vezes. Depois de nove semanas, elas podiam interromper a pesquisa ou continuá-la, usando o preservativo feminino de sua preferência. Cerca de 90% delas decidiram seguir em frente e, nesse momento, praticamente todas elas já tinham escolhido a que melhor lhes convinha (44% escolheram a woman’s condom, enquanto 37% optou pela FC2 e o restante, 19%, preferiu a VA Now).

A pesquisa também concluiu que as mulheres continuam usando os contraceptivos escolhidos em maior grau do que as que não têm escolha. E que o preservativo feminino é um método de barreira que pode aumentar a escolha das mulheres em todo o mundo.

Fonte: Agência Aids

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